EEG: ritmos dominantes

O registro eletroencefalográfico é caracterizado por uma aparente irregularidade. O ritmo alfa é caracterizado por sinais com amplitude na faixa de 20 a 200 V e frequência entre 8 e 13 Hz, sendo melhor detectado sobre a região occipital (parte inferoposterior da cabeça). Este ritmo aparece com maior intensidade em indivíduos normais, despertos, em repouso e com os olhos fechados. O formato das ondas é geralmente arredondado ou curvo.
O ritmo beta apresenta frequências na faixa dos 14 Hz aos 30 Hz, raramente alcançando aos 50 Hz. O registro das ondas beta pode ser melhor realizado nas regiões frontal e parietal, apresentando amplitude menores que 30 V. As ondas beta são divididas em dois grupos: beta I e beta II. As ondas beta I apresentam frequências de 14 Hz a 17 Hz e são inibidas pelo esforço mental e atenção. As ondas beta II (18 Hz a 30 Hz) surgem quando ocorre ativação intensa do sistema nervoso central ou durante um estado de tensão.
O surgimento do ritmo teta está associado a estados de sonolência mais comuns na infância. A faixa de frequências para este ritmo situa-se entre os 4 Hz e os 7 Hz.
O ritmo delta é o mais lento, composto por ondas com frequência igual ou inferior a 3 Hz, de origem cortical. Ocorre mais facilmente na infância mas aparece também no sono profundo e nas enfermidades cerebrais graves.


A Figura 1 exemplifica ritmos característicos do EEG associados a vários estados de um indivíduo normal: da excitação ao sono profundo, contendo ondas alfa, beta, delta e teta.

A tabela abaixo ilustra diferentes limites de frequência em cada um dos ritmos citados.

                      Ritmos característicos do EEG normal e sua faixa de freqüências
Ritmo
Freqüência (Hz)
Comentários
Alfa
(α)
8 – 13
Occipital, associado com sujeito desperto e relaxado; mais intenso com os olhos fechados.
Beta
(ß)
14 – 30
Mais evidente nas derivações frontais-parietais; melhor observado com alfa bloqueado.
Delta
(δ)
1 – 3
Presente em:  crianças com menos de 1 ano; durante o sono normal; em doenças do cérebro; em anestesia profunda
Teta
(Θ)
4 – 7
Predominante em crianças dos 2 aos 5 anos; mais evidente nas derivações parietais-temporais



Anormalidades funcionais detectáveis pelo EEG


             O maior valor clínico da eletroencefalografia está, principalmente, no estudo dos ataques epilépticos, caracterizados por uma ativação excessiva do sistema nervoso central, permitindo detectar o seu tipo, localização e extensão. Para cada tipo de epilepsia existe um traçado específico do EEG, detectável durante as crises e entre elas.

Figura 2  Colocação dos eletrodos para aquisição do eletroencefalograma, de acordo com o Sistema Internacional de Posicionamento 10-20. Fonte
Figura 3  Método para conexão dos canais em um sistema de aquisição do EEG. Na aquisição monopolar o eletrodo de referência fica localizado no lóbulo da orelha, no pescoço ou no queixo. Fonte





Redes Neurais Artificiais

Redes Neurais Artificiais (RNAs) são estruturas de Inteligência Artificial (mais especificamente referentes à abordagem conexionista) que mimetizam até certo grau as redes de neurônios no encéfalo. As RNAs são aplicadas em diversos tipos de problemas, entre eles: modelagem, otimização, classificação, previsão de séries temporais.

RNA de duas camadas. A resposta de um neurônio é função da soma das suas entradas, como nos neurônios do cérebro. Fonte da figura: Wikipedia.

As RNAs são estruturas de software que resolvem problemas de maneira não algorítmica. Elas possuem algum método associado para seu aprendizado, de forma que passam a se comportar como o modelo a que estão aproximando. Estes métodos são comumente métodos supervisionados, em que dados com respostas conhecidas são usadas para treinar a rede e outros são usados para validá-la.

É interessante observar que as RNAs tem aplicação em processos neurológicos. Uma enorme ironia usar algo inspirado no cérebro para ajudar a enteder o próprio cérebro! Um exemplo pode ser encontrado aqui, quanto ao diagnóstico de eplepixia. Outros dois artigos podem ser vistos aqui e aqui, sobre classificações do estado de sono a partir de dados de EEGs. Esta metodologia, caso implementada em tempo real e em conjunto com um a parelho como este, poderia prevenir muitos acidentes de trânsito, avisando quando o motorista adormecesse (ou em um cenário ainda melhor: prevendo que isto estaria para acontecer).

Projetos abertos de EEG

Encontrei alguns projetos abertos de EEG que podem ser reconstruídos ou tomados por base para algum outro:

OpenEEG project
http://openeeg.sourceforge.net/doc/

The Programmable Chip EEG BCI
http://pceeg.sourceforge.net/

The ModularEEG
http://openeeg.sourceforge.net/doc/modeeg/modeeg.html

Um outro projeto ainda em andamento:
http://www.instructables.com/id/EEG-brain-computer-interface/
http://eegproject.blogspot.com.br/

Conhece mais algum? Deixe seu recado!

EEG portátil

Um EEG portátil foi anunciado em 2011 por pesquisadores europeus. Ele é fino e leve e transmite sinais sem fio para um receptor em até 10m. Este instrumento pode ser usado por exemplo para prevenir sono ao volante, e para jogos e brinquedos interativos e para várias formas de ICM.


EEG portátil. Fonte.

Parece já haver várias versões do aparelho, e.g. esta e esta, existindo até um brinquedo com orelhas de pelúcia que se movem de acordo com o humor da cabeça que as usa.

Hacks destes aparelhos parecem já existir aos montes. Mas se você souber outros, ou melhor ainda de algum projeto aberto de um destes, deixe seu comentário!

Arduino

Arduino é uma plataforma microcontrolada open-hardware* com um ambiente de programação open-source, muito fácil de usar e com um público muito amplo e diverso. Ele é usado por desde engenheiros até profissionais sem nenhuma bagagem em microcontroladores (em especial os designers).
*  Todos os diagramas estão disponíveis e passíveis de reimplementações e modificações.

Pode ser uma base comum para desenvolvimento de projetos e protótipos por ou em colaboração com pessoas com formações em áreas não ligadas à eletrônica ou programação. Ou até mesmo parar aprendizado nesses temas. Em suma: é um conveniente conversor A/D (para muitos tipos de sinais), com interface USB, ambiente de programação e várias entradas e saídas.
Esta plataforma é comumente usada em hacks de vários dispositivos eletrônicos, inclusive de um curioso aparelho portátil de EEG, como mostrado no vídeo abaixo:

As Cadeiras de Roda Controladas por EEG

Há algumas coisas que vemos em filmes e pensamos sem impossíveis, Stan Lee e Jack Kirby deram vida nos quadrinhos ao professor Xavier que andava por ai controlando sua cadeira de rodas com a mente, em 1963 isso realmente parecia coisa de mutante, mas, isso virou realidade há alguns anos atrás.
Hoje temos várias cadeiras de rodas que são controladas utilizando EEG e vamos mostrar algumas delas pra vocês.

Foto ilustração do artigo indicado
A primeira dessas cadeira da qual achamos registro foi desenvolvida por cientistas espanhóis em um projeto que começou em 2007 e foi concluído em 2009, a proposta do projeto era desenvolver uma interface não invasiva e mais compacta para que seu uso diário fosse realmente viável. Um EEG não invasivo não era preciso o bastante para detectar padrões suficientes para realizar atividades complexas, mas os movimentos básicos de uma cadeira de rodas exigiam apenas que ela fizesse quatro movimentos e pudesse parar, e isso eles acreditaram que era possível fazer. 
Até a publicação do artigo que descrevia o projeto ele foi testado com 5 pessoas saudáveis, o processo exigiu escaneamento das atividades cerebrais, treinamento dos usuários testes e uso de fato da cadeira.
Todas as pessoas conseguiram operar a cadeira sem grandes dificuldades e o processo de adaptação dizem que foi bem rápido.


O vídeo acima mostra o funcionamento da cadeira e aqui está o LINK para o artigo dos desenvolvedores.

Em 2010 uma outra equipe de pesquisadores, agora da Suíça, criaram outra dessas cadeiras e o que eles alegaram de diferencial era que além de ler os padrões cerebrais e movimentar a cadeira ela também utilizava de outro recurso tecnológico que melhorava seu manuseio, a realidade aumentada.
O dispositivo tinha duas câmeras acopladas e o software trabalhava em tempo real com as imagens não só detectando objetos mas também os reconhecendo. 


No segundo vídeo reparei que o homem que controla a cadeira teve a cabeça raspada, não sei se isso é de fato uma necessidade para o projeto deles mas seria uma inconveniência para os usuários. 
Aqui está o LINK para o artigo dos desenvolvedores desse segundo projeto.

Vale ressaltar uma coisa, o primeiro dispositivo apresentado pode ser utilizado por tetraplégicos enquanto o segundo não. Vendo os vídeos podemos ver que no projeto dos espanhóis o usuário deve concentrar na direção desejada em uma tela, não exigindo movimento nenhum além do ocular. No projeto dos suíços o usuário deve fazer pequenos movimentos com suas mãos para controlar a cadeira. Isso é uma vantagem para o projeto dos espanhóis mais também é uma desvantagem porque o usuário acompanha o trajeto pela tela do computador.

Temos diversos outros projetos do tipo já desenvolvidos e em desenvolvimento, e o próximo passo para a maioria deles é fazer testes com deficientes reais e estudar a possibilidade de um uso diário do equipamento. Além disso obviamente vamos precisar esperar o desenvolvimento do designe dessas cadeiras e que o preço se torne realmente acessível, o que ainda pode demorar um bom tempo. Mas num futuro nem tão distante talvez nos deparemos com uma dessas.

A Neuroengenharia na UFMG

Este post é mais voltado para os alunos da UFMG que tem interesse na área da qual tanto falamos aqui mas acham que esta é uma realidade distante. Saibam que não, se você acessar o site Neuroengenharia.com, um dos sites que nós recomendamos na sessão de links, ele possuí uma sessão de referência de pesquisadores, e nesta sessão temos 4 nomes: Dr. Miguel Nicolelis, já citado no blog, Dr. Vinícius Rosa Cota, que formou em engenharia elétrica na UFMG e obteve seu título de doutor em bioinformática na mesma, atualmente trabalha UFSJ e os Drs. Márcio Flávio Dutra Moraes e Carlos Julio Tierra Criollo, ambos professores na UFMG.
Bem, você pode ver que está no lugar certo. A Escola de Engenharia da UFMG oferece o programa de pós graduação em Engenharia Elétrica com linha de pesquisa em Engenharia Biomédica e também o ICB e a Faculdade de Medicina oferecem o programa de pós graduação em Neurociências.
Ambos os programas contam com professores de várias unidades da UFMG, permitindo uma formação multidisciplinar de qualidade. Eles se concentram em dois núcleos, que possuem alunos de  iniciação científica, mestrado e doutorado. Vamos falar um pouco de cada um deles.

Núcleo de Neurociências (clique na imagem para acessar a página)

"O Núcleo de Neurociência (NNC) dedica-se ao estudo do funcionamento do sistema nervoso e de suas disfunções, bem como ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas."
As linhas de pesquisa são:
  • Circuitos Neurais;
  • Epilepsia;
  • Neurotoxinas;
  • Neuroimuno;
  • Memória e Comportamento.
O Núcleo fica no ICB, no campus Pampulha da UFMG, e foi fundado em 2000.

LINK para saber mais sobre o programa de pós graduação em Neurociências.

Núcleo de Estudo e Pesquisa em Engenharia Biomédica (clique na imagem para acessar a página)

"O NEPEB é um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, que tem como objetivo o desenvolvimento de estudos e pesquisas na Área de Engenharia Biomédica."
As linhas de pesquisa são:

  • Fisiologia dos Processos Humanos de Produção e Percepção da Fala;
  • Estudo da Cinesiologia e Correlação com Sinais Biológicos;
  • Modelo Computacional do Sistema Auditivo Humano;
  • Instrumentação para Cirurgia de Retina;
  • Lentes de Contato Personalizadas;
  • Aparelho Detector de Aberrações Oculares;
  • Neuro-Estímulo de Corrente com Forma de Onda Arbitrária;
O Núcleo fica na Escola de Engenharia, no campus Pampulha da UFMG.

LINK para saber mais sobre o programa de pós graduação em Engenharia Biomédica.


Estes núcleos que trabalham diretamente com a neuroengenharia, mas a área é bastante ampla e multidisciplinar, logo há vários outros laboratórios onde você pode começar.


Laboratório de Engenharia Biomédica (clique na imagem para acessar a página)

Outra opção que você tem é o Laboratório de Bioengenharia (LABBIO), do departamento de Engenharia Mecânica da UFMG. Foi fundado em 1999 pelo Dr. Marcos Pinotti Barbosa.
As linhas de pesquisa são:
  • Engenharia Cardiovascular;
  • Engenharia de Reabilitação;
  • Desenvolvimento de Instrumentos e Dispositivos para Diagnóstico e Terapia;
O laboratório fica na Escola de Engenharia, no campus Pampulha da UFMG. 
Também é oferecido um programa de pós graduação em Bioengenharia pelo departamento de Engenharia Mecânica.
Esperamos ter ajudado indicando a vocês lugares bacanas para procurar sobre o assunto e quem sabe começar uma pesquisa. A área está em grande expansão e pede novos pesquisadores empenhados!
Se possível mostraremos mais dos trabalhos desses laboratórios no blog.

Quer começar JÁ?? A UFMG oferece cursos online na área de neurociências, os cursos são certificados pelo Centro de Extensão do ICB - UFMG. Confira no link NeuroCurso.com

A Síndrome do Encarceramento e as Interfaces Cérebro-Máquina


A síndrome do encarceramento ("locked-in syndrome") é uma condição em que o paciente não consegue se movimentar ou se comunicar verbalmente devido à paralisia de quase todos os músculos voluntários, mas se mantém consciente e com suas funções intelectuais intactas. O termo foi cunhado por Fred Plum e Jerome Posner em 1966, devido ao fato de pessoas com a condição se sentirem presas dentro do próprio corpo, condição indiscutivelmente apavorante para a maioria de nós.

Em grande parte dos casos, os movimentos dos olhos não são afetados pela doença, o que pode ser usado para estabelecer alguma forma de comunicação do paciente com o mundo exterior. Em alguns casos, por outro lado, o paciente perde todos os movimentos ("Total locked-in syndrome"), o que dificulta bastante o diagnóstico da condição.

Causas
A síndrome é causada por danos a porções específicas da parte inferior do cérebro, mantendo intacta a região superior. Os danos podem ter diferentes origens como:
  • Lesão traumática do cérebro
  • Doenças cardiovasculares
  • Overdose de certos medicamentos
  • Derrame/hemorragia cerebral (normalmente na artéria basilar)
  • Picada de uma cobra comumente encontrada na Índia (Bungarus caeruleus)

Alguns casos notáveis da síndrome são:
- Jean-Dominique Bauby, autor e editor da revista de moda Elle, que sofreu um derrame e perdeu todos os movimentos, com exceção da pálpebra esquerda. Apesar disto, conseguiu escrever suas memórias ("The Diving Bell and the Butterfly"), indicando, através de piscadas, uma letra de cada vez.

Bauby "ditando" suas memórias.

- Julia Tavalaro, que aos 32 anos de idade sofreu múltiplos derrames. Durante 6 anos foi considerada um paciente vegetativo, até que familiares notaram que ela tentava sorrir após ouvir uma piada.


Interface Cérebro-Máquina
Este tipo de tecnologia tem um enorme potencial em diversas áreas, inclusive pode ajudar pacientes que possuem alguma forma de deficiência ou doença na qual a comunicação neuromotora é prejudicada, por exemplo, como é o caso de pacientes com LIS.

- Um caso interessante do uso desse tipo de interface é o de Erik Ramsey, que sofreu um derrame em 1999 após um acidente de carro e sofre com a síndrome, não tendo qualquer tipo de movimento.
Provavelmente os fatores mais debilitantes para um paciente como este, com paralisia extrema, são a dificuldade de comunicação com as pessoas responsáveis por seu cuidado e o isolamento social profundo.
Mesmo para pacientes que ainda mantém algum tipo de movimento (normalmente nas pálpebras e olhos), o fluxo de informação com as técnicas rudimentares de comunicação é muito pequeno, cerca de uma palavra por minuto, o que inviabiliza qualquer interação social normal.

Erik participou voluntariamente de um estudo do Departamento de Sistemas Neurais e Cognitivos da Universidade de Boston, que mostrou resultados otimistas envolvendo próteses neurais que podem restaurar mecanismos de fala em ritmo quase normal através de sintetizadores de voz.
Um eletrodo foi introduzido cirurgicamente no córtex motor relacionado à fala. Dentro de alguns meses após o implante, dendritos e axônios já começam a crescer dentro do cone do eletrodo, resultando na captação de sinais cerebrais.




  Estes sinais são então amplificados e transmitidos por ondas de rádio através do escalpo, onde são captados por uma antena, re-amplificados e processados. Assim o paciente consegue emitir sons de acordo com a atividade cerebral relativa à fala. Diversos testes foram conduzidos para tentar fazê-lo reproduzir sons de vogais que ouvia. É interessante notar que o paciente tem um feedback auditivo em tempo real (atraso < 50 ms) com os sons gerados pelo sintetizador. Desta forma, os estudos mostraram uma melhoria significativa do desempenho nos testes devido ao aprendizado e a prática.

Mesmo que Ramsey só consiga murmurar vogais, já é um grande avanço que provavelmente repercutiu em grande melhoria de sua qualidade de vida. Para detalhes sobre o estudo, clique AQUI.

A Macaquinha e seu Braço Robô


Neste post vamos falar de um dos experimentos mais importantes da neuroengenharia, este experimento foi feito por Miguel Nicolelis (para saber mais clique AQUI) e sua equipe em 1999. A macaquinha rhesus Aurora foi treinada e conseguiu movimentar um braço mecânico apenas com o pensamento.
Primeiro Aurora foi treinada a jogar um jogo no computador utilizando um joystick, ela devia mover o cursor até ele atingir um alvo, após o alvo ser atingido ele se movia. Enquanto ela treinava Nicolelis registrava a atividade cerebral da macaca.
Ele estudou estes registros e pode então conectar o cérebro de Aurora num computador que controlava um braço mecânico, o computador analisava a leitura das ondas cerebrais da macaca e fazia com que o braço robótico se movesse da mesma forma que o braço dela. Foi a primeira vez que a leitura dos pensamentos de um ser vivo foi utilizada para movimentar um componente mecânico.
Depois de realizado o feito ele disse enquanto mostrava as leituras da atividade cerebral da primata: "Está tudo aqui, e isto não está somente no cérebro de um primata, mas também em nosso cérebro. No dia em que descobrirmos como o nosso cérebro funciona, será através de sons e imagens como estas. Esse é o alfabeto essencial da mente."


Mas o experimento não parou por ai, em um certo momento Aurora parou de movimentar seu braço. O joystick continuava ali mas nesse ponto sua conexão com o computador já havia sido cortada e os movimentos do cursor dependiam apenas dos pensamentos da macaca, e ela foi capaz de perceber isso. O cérebro da macaca agia no mundo sem precisar do seu corpo, mente e corpo estavam "separados".
E para uma surpresa ainda maior com o passar do tempo a macaca foi capaz de movimentar seus braços independentemente do braço robótico, ela controlava agora 3 membros.
O cientista acredita que este momento foi decisivo na sua vida e de sua equipe, e que nenhum outro será igualável a ele porque foi ali que um novo campo se abriu. 
Para ver Nicolelis falando sobre o experimento assista o vídeo abaixo.


É claro que a equipe não parou por ai, outro experimento interessante foi feito em 2008. Dessa vez a macaquinha escolhida foi Idoya, também da raça rhesus. A macaca foi colocada para andar em uma esteira nos EUA e suas ondas cerebrais foram transmitidas através da internet para o Japão, onde um robô humanóide foi colocado para reproduzir os movimentos da primata também caminhando sobre uma esteira. Entre o experimento feito com Aurora e este a equipe de Nicolelis já tinha conseguido fazer macacos segurarem objetos com um braço robô, mas essa foi a primeira vez que sinais cerebrais foram usados para fazer um robô andar. 
Todo um treinamento foi feito com Idoya, ela caminhava na esteira a diferentes velocidades, para frente e para trás, três vezes por semana. Durante este treinamento suas atividades cerebrais foram estudadas e gravadas. 
Durante o experimento, enquanto caminhava a macaca podia ver as pernas robóticas em uma tela e recebia recompensas quando os movimentos estavam bem sincronizados. Depois que a esteira foi desligada Idoya continuou ainda controlando o robô por alguns minutos.
Uma constatação importante foi a de que a comunicação cérebro-máquina ocorria mais depressa do que a cérebro-corpo.


Isso foi um enorme avanço, mas ainda havia um desafio maior pela frente. Seria possível simular sensações através de uma ICM? 
E a equipe novamente surpreendeu quando em 2011 simulou sensações de tato em macacos rhesus. Duas macacas foram utilizadas neste experimentos e elas controlavam com o pensamento um braço virtual, que era mostrado numa tela de computador. Elas podiam andar com o braço pela tela e passar por cima de objetos virtuais. Quando passavam por estes objetos uma sensação diferente de tato era simulada para cada um deles, e quando passavam sobre o objeto que simulava uma sensação específica elas eram recompensadas com suco de laranja. Foi possível perceber que as macacas controlavam os braço passando ele pelos objetos até que chegassem no objeto para o qual deveriam receber o suco, e deixavam o braço naquela posição até serem recompensadas. Esse foi um avanço muito importante na neurociência e principalmente para a área de neuropróteses, já que um grande desafio hoje é gerar um feedback sensorial para o usuário dessas próteses. 



Mostramos neste post alguns experimentos importantíssimos de Nicolelis e sua equipe, mas ele não é o único a conseguir avanços nessa área. Hoje temos cientistas no mundo todo participando desta corrida revolucionária, vamos tentar mostrar outros experimentos interessantes de outros pesquisadores nos posts seguintes.

Nicolelis e o Projeto Andar de Novo (Walk Again)

Miguel Nicolelis é um médico e neurocientista brasileiro, ele possui graduação em medicina pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorado em Ciências, Fisiologia Geral, pela mesma. Atualmente é professor titular do Departamento de Neurobiologia da Universidade de Durke nos Estados Unidos, onde lidera um grupo de pesquisa em neuroengenharia. Seus trabalhos na área de interface cérebro máquina (ICM) e neuropróteses são referência mundial, nas suas próprias palavras o que ele e seu grupo vem estudando é: "temos tentado nesses últimos 10 anos interfacear a atividade do cérebro com máquinas diversas que podem realizar os nossos desejos motores sem o engajamento do próprio corpo. Você imagina o que você quer fazer e um robô, ou um avatar, realiza esse programa motor para você só pelo pensamento". E eles já conseguiram, seu trabalho está na lista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) das tecnologias que vão mudar o mundo, principalmente por possibilitarem a reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia corporal.
Alguns anos atrás foi o primeiro brasileiro a ter sua pesquisa na capa da revista Science, um estudo sobre uma técnica promissora para cura do mal de Parkinson. Foi também um dos nomes cotados a receber o premio Nobel de Medicina, não foi o ganhador mas o avanço cada vez maior das suas pesquisas ainda o coloca como nome a ser observado.
Seu trabalho começou a ganhar o cenário internacional em 1999 graças à um experimento que merece até um post especial (para vê-lo clique AQUI), o experimento permitiu a um primata mover um braço robótico apenas com a força do pensamento.
Seguindo esta linha o cientista veio com o projeto Andar de Novo (Walk Again), um projeto bastante ousado. Ele acredita que com essa ICM ele conseguirá fazer pacientes tetraplégicos e paraplégicos se movimentarem com a ajuda de um exoesqueleto. Normalmente a causa dessas doenças é uma lesão na medula espinhal, o que não afeta a atividade cerebral, apenas a comunicação que leva seu comando até o resto do corpo. O projeto é uma parceria entre Alemanha, Brasil, EUA e Suíça.
O cientista acredita fortemente que esse não é um sonho distante, ele espera fazer a primeira demonstração pública do projeto na abertura da Copa de 2014 no Brasil. Ele quer que o primeiro chute do evento seja feito por uma criança paraplégica brasileira com o auxílio do exoesqueleto desenvolvido pela sua equipe.
Há um site especialmente para o projeto, o The Walk Again Project, por enquanto não há muito divulgado mas devemos levar em conta que o projeto começou agora apenas de nome, toda a pesquisa desenvolvida por Nicolelis e sua equipe nos últimos anos são partes fundamentais desse projeto.
Mas o cientista afirma que o projeto é muito maior, ele espera que o Andar de Novo possa alavancar ouras tecnologias que surjam durante a pesquisa e que também possa incentivar outros jovens cientistas do mundo a atuarem na área, ele se mostra sempre muito otimista quanto às repercussões do projeto.
O trabalho do pesquisar é amplamente divulgado e se você quiser saber mais pode procurar matérias e até videos de palestras no youtube.