A Síndrome do Encarceramento e as Interfaces Cérebro-Máquina


A síndrome do encarceramento ("locked-in syndrome") é uma condição em que o paciente não consegue se movimentar ou se comunicar verbalmente devido à paralisia de quase todos os músculos voluntários, mas se mantém consciente e com suas funções intelectuais intactas. O termo foi cunhado por Fred Plum e Jerome Posner em 1966, devido ao fato de pessoas com a condição se sentirem presas dentro do próprio corpo, condição indiscutivelmente apavorante para a maioria de nós.

Em grande parte dos casos, os movimentos dos olhos não são afetados pela doença, o que pode ser usado para estabelecer alguma forma de comunicação do paciente com o mundo exterior. Em alguns casos, por outro lado, o paciente perde todos os movimentos ("Total locked-in syndrome"), o que dificulta bastante o diagnóstico da condição.

Causas
A síndrome é causada por danos a porções específicas da parte inferior do cérebro, mantendo intacta a região superior. Os danos podem ter diferentes origens como:
  • Lesão traumática do cérebro
  • Doenças cardiovasculares
  • Overdose de certos medicamentos
  • Derrame/hemorragia cerebral (normalmente na artéria basilar)
  • Picada de uma cobra comumente encontrada na Índia (Bungarus caeruleus)

Alguns casos notáveis da síndrome são:
- Jean-Dominique Bauby, autor e editor da revista de moda Elle, que sofreu um derrame e perdeu todos os movimentos, com exceção da pálpebra esquerda. Apesar disto, conseguiu escrever suas memórias ("The Diving Bell and the Butterfly"), indicando, através de piscadas, uma letra de cada vez.

Bauby "ditando" suas memórias.

- Julia Tavalaro, que aos 32 anos de idade sofreu múltiplos derrames. Durante 6 anos foi considerada um paciente vegetativo, até que familiares notaram que ela tentava sorrir após ouvir uma piada.


Interface Cérebro-Máquina
Este tipo de tecnologia tem um enorme potencial em diversas áreas, inclusive pode ajudar pacientes que possuem alguma forma de deficiência ou doença na qual a comunicação neuromotora é prejudicada, por exemplo, como é o caso de pacientes com LIS.

- Um caso interessante do uso desse tipo de interface é o de Erik Ramsey, que sofreu um derrame em 1999 após um acidente de carro e sofre com a síndrome, não tendo qualquer tipo de movimento.
Provavelmente os fatores mais debilitantes para um paciente como este, com paralisia extrema, são a dificuldade de comunicação com as pessoas responsáveis por seu cuidado e o isolamento social profundo.
Mesmo para pacientes que ainda mantém algum tipo de movimento (normalmente nas pálpebras e olhos), o fluxo de informação com as técnicas rudimentares de comunicação é muito pequeno, cerca de uma palavra por minuto, o que inviabiliza qualquer interação social normal.

Erik participou voluntariamente de um estudo do Departamento de Sistemas Neurais e Cognitivos da Universidade de Boston, que mostrou resultados otimistas envolvendo próteses neurais que podem restaurar mecanismos de fala em ritmo quase normal através de sintetizadores de voz.
Um eletrodo foi introduzido cirurgicamente no córtex motor relacionado à fala. Dentro de alguns meses após o implante, dendritos e axônios já começam a crescer dentro do cone do eletrodo, resultando na captação de sinais cerebrais.




  Estes sinais são então amplificados e transmitidos por ondas de rádio através do escalpo, onde são captados por uma antena, re-amplificados e processados. Assim o paciente consegue emitir sons de acordo com a atividade cerebral relativa à fala. Diversos testes foram conduzidos para tentar fazê-lo reproduzir sons de vogais que ouvia. É interessante notar que o paciente tem um feedback auditivo em tempo real (atraso < 50 ms) com os sons gerados pelo sintetizador. Desta forma, os estudos mostraram uma melhoria significativa do desempenho nos testes devido ao aprendizado e a prática.

Mesmo que Ramsey só consiga murmurar vogais, já é um grande avanço que provavelmente repercutiu em grande melhoria de sua qualidade de vida. Para detalhes sobre o estudo, clique AQUI.

Um comentário:

  1. http://www.deficienteciente.com.br/2012/06/homem-com-derrame-cerebral-utiliza-movimentos-dos-olhos-para-usar-o-twitter.html

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