EEG

O Eletroencefalograma (EEG) é um exame neurofisiológico que registra a atividade elétrica espontânea do cérebro num período de tempo, é um exame usualmente não invasivo onde eletrodos são colocados em posições pré-definidas da cabeça do paciente. A eletroencefalografia, estudo desses EEGs, procura diagnosticar inúmera patologias.

História

Tudo começou com a descoberta de Luigi Galvani, em 1784, que mostrou que o tecido nervoso é eletricamente excitável. Desde então começaram os estudos das propriedades dessa atividade elétrica. Esses estudos buscavam desvendar como medir essa atividade e se ela se relacionava com as funções cognitivas, motoras e sensoriais. Os primeiros registros mediam as correntes nos nervos e músculos.
A descoberta de correntes no cérebro demorou mais tempo devido à baixíssima intensidade dessas correntes, tão baixa que a tecnologia da época não permitia que fossem detectadas. O primeiro cientista a detectar atividades elétricas do cérebro foi Richard Caton, em 1875, ele aplicou seu estudo em animais e foi o responsável por constatar que essas atividades elétricas acabavam com a morte e que alguns estímulos alteravam e/ou intensificavam estas atividades. Os resultados de suas pesquisas não foram muito difundidos, outros cientistas também trabalhavam nesta área nesta época e mais ainda nos anos seguintes.
O primeiro eletroencefalograma foi feito por Vladimir Pravidich-Neminsky, em 1912, ele registrou fotograficamente as ondas cerebrais de um cachorro e deu a esse registro o nome de "eletrocerebrograma".
O primeiro eletroencefalograma humano veio apenas alguns anos depois, em 1929, foi feito por Hans Berger. Ele conseguiu registrar estas ondas sem abrir o crânio, foi o responsável pela criação do termo eletroencefalograma, determinou a existência de ritmos dominantes (que chamou de alpha e beta) e anunciou que esta atividade elétrica se alterava não só com estímulos, mas também com doenças nervosas (em seres humanos).
Berger é reconhecido como fundador do ramo da neurofisiologia clínica.

 Primeiro EEG do Berger em ~1928. Fonte.

O registros que Berger publicou eram produto de estudos feitos em seu filho, Klaus. Depois destas publicações os estudos foram estendidos a um maior número de pacientes e ele começou a receber equipamentos mais modernos. Com o avanço de suas pesquisas, ele associou as ondas a estados mentais, determinou diversas situações onde as ondas beta ou alfa eram predominantes ou bloqueadas, estudou o EEG ao longo do desenvolvimento do sistema nervoso da criança.
Depois de 1934, seu trabalho chegou a grande pesquisadores de Cambridge:  Brian MatthewsEdgar Adrian e ao canadense Herbert Jasper. Eles possuíam equipamentos mais modernos e conseguiram difundir mais suas pesquisas e as de Berger.

O EEG como Ferramenta para Diagnóstico

O EEG tornou-se um instrumento muito importante para a neurologia, nos anos seguintes começaram estudos para o desenvolvimento de aparelhos comerciais que pudessem medi-lo. A partir de 1938 equipamentos já eram utilizados em hospitais, foram utilizados na segunda guerra para avaliar trauma cefálico em pilotos de aviões. Nas décadas seguintes eles foram aprimorados e em algum tempo todos os neurofisiologistas já usufruíam deles.

Potenciais Evocados

Até então os EEGs registravam as atividades espontâneas do cérebro, ainda não era possível estudar fenômenos elétricos mais sutis, mas com o avanço da tecnologia os estudos dos potenciais evocados avançaram. Potenciais evocados são sinais elétricos característicos que ocorrem devido à estímulos específicos, eles são classificados quanto ao estímulo, que pode ser visual, auditivo ou sensorial. Não era possível detectá-los porque as atividades espontâneas os mascaravam, mas em 1954 George Dawson descobriu um jeito de medi-los. Os computadores ainda não eram acessíveis então ele desenvolveu um equipamento eletromecânico, chamado promediador, que tirava a média de sucessivos EEGs obtidos em resposta a um determinado estímulo, a média das variações espontâneas tendia à zero, sendo possível observar o potencial cortical relacionado ao estímulo.

Topografia Cerebral

Até então não era possível com os equipamentos disponíveis mapear de que área do cérebro os estímulos elétricos vinham, determinar com precisão as áreas de projeção sensorial. O médico e engenheiro britânico W. Grey Walter, em 1957 inventou o toposcópio, um equipamento constituído por um conjunto de tubo de raios catódicos, cada um deles ligados por eletrodos à uma certa região da cabeça, e cada um desses tubos mostrava em sua tela a intensidade e a velocidade do EEG num região específica. O problema era que o aparelho era muito grande e caro, então seu uso não se popularizou.

Toposcópio. Fonte.

Apenas na década de 80 a tecnologia permitiu que aparelhos mais baratos e menores fossem construídos, a partir daí a topografia cerebral do EEG passou a ser amplamente utilizada.

EEG na Atualidade

Atualmente temos aparelhos bastante modernos para a realização do EEG, o procedimento inteiro dura cerca de 30 minutos, sendo que a gravação ocorre de fato em aproximadamente 20 minutos. O paciente fica deitado e os eletrodos são fixados no escalpo em região predefinidas com a ajuda de uma pasta condutora. O paciente será orientado a relaxar e em alguns momentos deverá abrir e fechar os olhos conforme orientado, isso para a análise da ocorrência e do bloqueio das ondas de ritmo alfa e beta. Também são realizados fotoestímulos, muito importantes na detecção de doenças como epilepsia. O teste não provoca efeitos colaterais e uma preparação especial ou não depende dos motivos que levaram o médico a solicitar o exame para o paciente. Quando o EEG comum não é o suficiente para o médico fazer um diagnóstico preciso pode ser recomendado que se faça um EEG em sono, algumas atividades anormais são mais facilmente detectadas quando o paciente está em estado de sonolência ou em sono profundo. O exame pode ser feito em qualquer fase da vida, de recém nascidos a idosos.

Fonte.



Esta foi a história do EEG contada brevemente, pudemos ver toda a evolução na área da neurofisiologia. O uso clínico deste exame é amplamente difundido hoje mas ele também é extensamente utilizado em pesquisas nas áreas da neurociência, ciência cognitiva, psicofisiologia e psicologia cognitiva. No blog vamos procurar apresentar casos clínicos e resultados de pesquisa interessantes envolvendo o EEG, assim como alternativas para o exame desenvolvidas por estudantes. Para acessar as postagens sobre este assunto você pode ir à barra lateral na página inicial e clicar em EEG na sessão de marcadores.

Por fim deixamos um citação de Edgar Adrian: "A história da eletrofisiologia foi decidida pela história dos instrumentos de registro elétrico"

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